quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Crédito para casa própria tem queda de 33% em 2015, mostra Abecip

No ano, R$ 75,6 bi de recursos da poupança foram para financiamentos.
Associação projeta para 2016 queda de 20,6%, para R$ 60 bilhões.


Gilberto Duarte de Abreu Filho, presidente da Abecip, apresenta números do crédito habitacional (Foto: Marta Cavallini/G1)



O volume de empréstimos para aquisição e construção de imóveis caiu 33% no ano passado, na comparação com 2014. Segundo dados divulgados nesta terça-feira (26) pela Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), em São Paulo, foram destinados, no ano passado, R$ 75,6 bilhões em crédito imobiliário com recursos da caderneta de poupança dos agentes financeiros do SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo).
Na passagem de novembro para dezembro, no entanto, houve alta de 16,5% nos financiamentos, para R$ 4,8 bilhões, interrompendo quatro meses seguidos de queda. Mas frente a dezembro de 2014, o valor representa uma queda de 55,2%.
CRÉDITO IMOBILIÁRIO
Total de empréstimos (recursos SBPE), em R$ bilhões
56,279,982,8109,2112,975,62010201220140255075100125
Fonte: Abecip
Gilberto Duarte de Abreu Filho, presidente da Abecip, atribui a queda nos recursos à inflação e taxa de juros mais alta, ao aumento do desemprego e à queda no rendimento real. “Houve queda nos investimentos, o que retrai o consumo das famílias. Isso impacta a economia como um todo e reflete no setor imobiliário”, disse.

Abreu Filho ressaltou que o nível de confiança caiu em todos os setores da economia – indústria, comércio e serviços – e isso traz impacto importante para o consumidor. “O consumidor determina o ritmo do mercado. E comprar imóvel é a principal aquisição que ele vai fazer ao longo da vida, então o consumidor está mais cauteloso”, explica.
Queda de 36% nas unidades contratadas
Em número de unidades, foram emprestados recursos para aquisição e construção de 21,9 mil imóveis em dezembro – 9ª melhor marca atingida em um mês de dezembro desde 1995 –, resultado 55,8% inferior ao apurado em dezembro de 2014. Comparado a novembro deste ano, observou-se alta de 21,5%.
Entre janeiro e dezembro deste ano, foram financiadas aquisições e construções de 341,5 mil imóveis, recuo de 36,6% em relação a igual período de 2014.
Previsão de nova queda em 2016
A projeção para 2016 da Abecip é que os recursos somem R$ 60 bilhões para o crédito imobiliário (queda de 20,6% em relação a 2015), segundo Abreu Filho, "em um cenário de economia em recessão, queda de confiança, falta de consenso político e necessidades de reformas".
Inadimplência cresce
A inadimplência ficou em 1,9% em 2015, ante 1,4% no ano anterior. A Abecip considera inadimplência quando há mais de três prestações em atraso. O índice começou a cair abaixo de 2% a partir de 2012, quando ficou em 1,8%.
De acordo com Abreu Filho, o aumento da inadimplência está ligado ao desemprego e ao nível de confiança das famílias. “Mesmo as pessoas adimplentes que passaram a ter dificuldades em outras modalidades de crédito passaram a preocupar o setor imobiliário. Há cenários de carências e extensão do crédito, o consumidor quer pagar, ele quer ficar com a casa dele, é o principal compromisso que ele assumiu, e os bancos estão se preparando e vão buscar novas soluções”, disse.
JG_Imoveis (Foto: TV Globo)Número de distratos aumentou 12,4% entre 2014 e 2015, de janeiro a setembro (Foto: TV Globo)
O cancelamento das vendas (distratos) também vem subindo nos últimos anos. O patamar aumentou 12,4% na comparação entre 2014 e 2015 (de janeiro a setembro). “A boa notícia é que as incorporadoras estão oferecendo alternativas aos mutuários, revertendo parte do cancelamento dos negócios”, afirmou Abreu Filho.
Captação líquida da poupança
Diferente dos demais meses de 2015, no mês de dezembro os depósitos voltaram a superar os saques, e a captação líquida das cadernetas de poupança dos agentes financeiros do SBPE ficou positiva em R$ 4,8 bilhões, influenciada pelo recebimento da segunda parcela do 13º salário.
No acumulado no ano de 2015, os recursos da caderneta de poupança superaram os depósitos em R$ 53,56 bilhões - a maior fuga de valores desde o início da série histórica do Banco Central, em 1995.
Segundo a Abecip, o atual patamar da Selic (14,25% ao ano) continua favorecendo a remuneração das aplicações financeiras a ela atreladas, em detrimento dos depósitos de poupança que rendem juros menores.
As sucessivas saídas de recursos da poupança SBPE nos três primeiros trimestres de 2015 provocaram a diminuição dos saldos, diz a entidade. No entanto, houve reação em dezembro e os saldos voltaram a crescer, ultrapassando a marca de R$ 509 bilhões. Em dezembro de 2014, o saldo foi de R$ 522,3 bilhões, portanto, na comparação anual, a queda foi de 2,5%. Em 2014, o saldo da poupança SBPE teve crescimento de 11,9%.
Novos x usados
A aquisição de imóveis novos caiu 10% de 2014 a 2015. Já a de imóveis usados recuou 50% no mesmo período. Segundo Abreu Filho, no mercado de usados, a decisão de compra é praticamente uma troca, e o consumidor está menos confiante para fechar negócio, além de haver maior seletividade do agente financeiro na concessão de crédito, fatores que explicariam a maior retração. Já no caso dos novos, boa parte foi adquirida na planta, ou seja, trata-se de uma decisão antiga.
FGTS x poupança
Os empréstimos com uso do FGTS cresceram mais de 30% em 2015, inversamente às concessões com recursos da poupança SBPE: em 2014 foram financiadas 465 mil unidades e em 2015, 603 mil. Já as aquisições com financiamentos usando recursos da poupança caiu 37% - de 538 mil unidades em 2014 para 342 mil unidades em 2015. Segundo Abreu Filho, a redução dos financiamentos do SBPE foi parcialmente compensada pela elevação dos empréstimos com o uso do FGTS.

A redução dos recursos da poupança limitou o fundo para o crédito imobiliário SBPE. De acordo com o presidente da Abecip, o saldo de poupança deve se encontrar pela primeira vez com o crédito imobiliário do SBPE.
O Banco Central tomou as primeiras medidas para manter o mercado aquecido, segundo Abreu Filho, como a alteração no compulsório da poupança para dar fôlego ao setor, com incremento de R$ 22,5 bilhões no mercado. Desse total, agentes financeiros usaram R$ 15 bilhões em 2015.
Fonte: G1
Tiago Albuquerque