segunda-feira, 20 de julho de 2015

Remédio amargo ou letal?

Sacrifícios do ajuste fiscal visam recuperar a força e a credibilidade da economia brasileira, mas podem comprometer setores estratégicos, como a indústria da construção civil


Poucos são os empresários brasileiros capazes de questionar a necessidade do ajuste fiscal e do reequilíbrio das contas públicas no Brasil. Não se trata, portanto, aqui de discutir a premência do remédio, mas sim a dosagem e os efeitos colaterais sobre uma economia fragilizada. A indústria da construção civil sofre para se readaptar a uma realidade que, há menos de uma década, fazia parte da rotina das empresas: falta de crédito, preocupação geral com desemprego, renda decrescente, desconfiança dos investidores nacionais e estrangeiros e a falta de recursos públicos para investimentos em infraestrutura.
A diferença do momento atual para as velhas "décadas perdidas" do setor consiste na abrangência da crise. A indústria da construção se subdivide em vários segmentos de atuação: infraestrutura e obras públicas, parcerias público-privadas, habitação popular, mercado imobiliário (real estate), obras industriais, logísticas etc. Como bem apontou o presidente do SindusCon-SP, José Romeu Ferraz Neto, em entrevista concedida à equipe da revista Construção Mercado, "nunca tinha visto todas as áreas ruins ao mesmo tempo, como está acontecendo agora."
"Permanecer parados (...) não vai ajudar em nada. Pelo contrário, fará com que o remédio, ao invés de amargo, seja letal."
A análise de Ferraz Neto nos oferece a dimensão de uma crise, cujas consequências ainda não conseguimos mapear. Os efeitos imediatos são nítidos: desemprego setorial, paralisação de obras, redução de lançamentos, engavetamento de projetos e adiamento de investimentos. Os danos a médio e longo prazo, entretanto, são imprevisíveis e dependem da duração da contração econômica.
Perderemos, mais uma vez, gerações inteiras de engenheiros civis e arquitetos para outros setores da economia? As empresas de projeto e consultoria serão novamente esvaziadas, deixando talentos e know-how por falta de novos contratos? A industrialização na construção civil será subjugada em favor da mão-de-obra desqualificada? Pautas fundamentais para o futuro do setor, como a busca da produtividade, a sustentabilidade (ecoeficiência), a Norma de Desempenho (NBR 15.575) e o BIM (Building Information Modeling), perderão espaço?
Difícil responder, com exatidão, às questões apontadas. O que resta ao setor é defender o papel estratégico de uma indústria propulsora de investimentos e empregos. Ao mesmo tempo, no âmbito das empresas, concentrar esforços em gestão, inovação e soluções alternativas para encontrar novas oportunidades que, mesmo escassas, aparecem em tempos de recessão. Permanecer parados, aguardando a dose e a duração dos sacrifícios impostos pelo governo federal, não vai ajudar em nada. Pelo contrário, fará com que o remédio, ao invés de amargo, seja letal.


Fonte: PINIWeb
Tiago Albuquerque

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