Ana Castelo, da FGV, diz que concessões de infraestrutura só vão movimentar o setor de construção em 2015 e 2016
Há um clima de pessimismo generalizado entre os empresários da construção e, se não fosse pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e pelo Minha Casa, Minha Vida (MCMV), a situação seria ainda pior. Essa é a conclusão de um estudo realizado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) com 646 empresas do setor. O obtido com exclusividade pelo Valor , o levantamento mostra que as duas políticas federais tendem a ganhar espaço nos negócios das construtoras, com um número crescente de companhias que os avaliam como importantes em suas operações.
Para 29,2% das empresas consultadas, o PAC terá relevância nos negócios nos próximos 12 meses, percentual superior aos 25,9% que atribuíram importância ao programa nas operações nos últimos 12 meses. No caso do MCMV, 20,6% das empresas veem influência do programa em seus negócios nos próximos 12 meses, também acima dos 15,9% que creditaram ao programa relevância nas operações nos últimos 12 meses.
Para as pequenas empresas, os programas são ainda mais importantes - 31% delas contam com o PAC em seus negócios nos próximos 12 meses e 28,5%, com o MCMV. Entre as companhias com foco em infraestrutura, 36% dizem que o PAC terá influência sobre os negócios e, no segmento de edificações, 31,5% apostam no programa federal de habitação.
"Possivelmente os dois programas federais estão se tornando mais importantes para as empresas porque a parcela de negócios não relacionada a eles está diminuindo. Isso ajuda a entender a queda na confiança do setor, principalmente no que se refere ao futuro", comenta a coordenadora de estudos da construção da FGV, Ana Castelo.
Desde março os empresários do setor vêm se mostrando cada vez menos otimistas, chegando a maio no pior patamar de confiança desde que a FGV iniciou a apuração, em 2010. O levantamento mostra que nos últimos três meses a confiança diminuiu 8,7% em relação ao mesmo período do ano passado - a maior retração trimestral desde agosto de 2012, quando o recuo foi de 9,8% na mesma base de comparação. A piora foi mais acentuada no que se refere às expectativas, com queda de 11,4% neste intervalo, enquanto a situação atual apresentou deterioração de 5,3%.
"Percebemos que as empresas que possuem projetos relacionados ao Programa de Aceleração do Crescimento e ao Minha Casa, Minha Vida estão menos pessimistas do que aquelas que não os têm. Essas últimas não têm aonde buscar apoio para suas operações e o cenário é de grande incerteza", afirma Ana, ressaltando que os investimentos dependem de uma continuidade do ciclo de expansão do setor da construção, que ensaiou uma retomada no início de 2014, mas não se sustentou nos meses seguintes. Os reflexos das concessões em infraestrutura, diz ela, devem ser percebidos apenas entre o fim de 2015 e o começo de 2016.
Dentre as empresas que consideram o PAC importante para suas operações, 45,3% preveem melhora nos negócios nos próximos seis meses e apenas 5,7% acreditam que a situação vai piorar. Já entre aquelas que não contam com projetos relacionados ao programa, há perspectiva de melhora para 20,5%, quase o mesmo percentual daquelas que acreditam que a tendência é contrária (19,3%).
Os resultados são semelhantes para o Minha Casa, Minha Vida. Dentre as empresas que carregam projetos do programa, 42,3% têm previsão de melhora em seus resultados, contra 7,7% que projetam piora. Já entre aquelas que não contam com esses projetos, 25,4% esperam avanço nos negócios nos próximos seis meses e 16,9% estimam deterioração nas operações.
Em todos os casos, a escassez de mão de obra ainda é apontada como o principal entrave à expansão dos negócios, mas a percepção de demanda insuficiente vem crescendo nos últimos meses. Em maio, 28,5% das empresas que fizeram parte da Sondagem da Construção apontaram falta de clientes, acima dos 22,7% contabilizados um ano atrás e dos 13,8% de maio de 2012.
"Apesar de menos confiantes, os empresários não têm planos de demitir pessoal. Eles apenas esperam contratar menos", observa Ana. Entre as companhias que têm o PAC em seus negócios, 20,7% pretendem ampliar seu quadro de funcionários nos próximos três meses, ao passo que entre aquelas que não contam com esses projetos a abertura de vagas está no planejamento de apenas 2,4%. Já no caso do MCMV, as contratações são previstas para 26,9% das empresas que vêm o programa como importante para os negócios nos próximos 12 meses, enquanto entre as companhias que não contam com esses projetos, novas vagas devem surgir em apenas 11,3% delas.
"Os programas estão cumprindo com seu papel de estimular a atividade na construção civil. Embora a retomada do setor tenha sido abortada, não há um movimento de retração. O quadro é de estabilidade", conclui Ana.
Fonte:http://site.cte.com.br/ Valor Econômico, Brasil, 30/05/14
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