quarta-feira, 9 de abril de 2014

Nova gigante admite venda de fábricas no Brasil

A francesa Lafarge e a suíça Holcim, que anunciaram ontem (07/04) uma fusão criando o maior grupo de material de construção do mundo, estimam que o Brasil será um dos países onde poderá ter de vender ativos para obter o sinal verde das autoridades de concorrência para a transação.
"No Brasil, reconhecemos que teremos um grande tema a tratar, sobretudo após essa investigação do Cade [Conselho Administrativo de Defesa Econômica]", disse Rolf Soiron, presidente do conselho de administração de Holcim, ao Valor. E completou: "Não sei se é o maior caso, não sei o que vai se passar, mas vamos conversar com as autoridades no Brasil".
Companhias de cimento no Brasil travam uma dura batalha com a Justiça antitruste por causa de formação de cartel, em processo de 2005. Julgamento do Cade realizado no fim de janeiro, ainda não concluído devido ao pedido de vista de um dos conselheiros, aplicou à Holcim multa superior a meio bilhão de reais, além da obrigação de se desfazer de ativos com capacidade anual de produção equivalente a 22% do que opera hoje.
"Tem muito rumor, mas não saiu oficialmente a decisão do Cade, nada chegou até a empresa", observou Bernard Fontana, atual presidente da Holcim e que integrará um grupo restrito para formatar a nova empresa, com o objetivo de completar a fusão no primeiro semestre de 2015. Ele notou que a Lafarge, por sua vez, não está envolvida no caso do cartel no Brasil, de forma que não muda a situação para a transação no país.
No total, Lafarge e Holcim planejam vender ativos valendo € 5 bilhões no mundo para limitar sua fatia de mercado e se adaptar a exigências de autoridades de concorrência em vários países.
O desinvestimento representará entre 10% e 15% do Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) do novo grupo, afirmou Bruno Lafont, presidente da Lafarge. A maior parte do desinvestimento será na Europa, com pouco mais de € 3 bilhoes, onde visivelmente os dois grupos estimam ter capacidade demais quando somadas. Ele não comentou sobre as operações nos países emergentes.
"A esta altura é impossível dizer quanto vai ser vendido no Brasil", afirmou Lafont, indicado como novo presidente do futuro grupo. Soiron disse, porém, que se a venda no Brasil for necessária "será muito pouco" no total de desinvestimento nos emergentes. "Basta ver que tem desinvestimento na Índia, Filipinas e outros países".
Fontana, CEO da Holcim, observou que no momento há vários cenários de desinvestimento, mas nenhuma decisão tomada. "E nem vamos dizer o que vai, se vai, ser vendido, porque pode desvalorizar nosso ativo", disse. Para Soiron, os dirigentes de Lafarge e Holcim terão de agir rápido para resolver problemas regulatórios, especialmente onde pode haver problemas, como no Brasil, Índia, Canadá e, sobretudo, na Europa.
Segundo Abdelkader Benchiha, analista de Natixis, citado pelo jornal francês "Les Echos", haveria problemas potenciais de concorrência nos EUA, Canadá, Brasil e França, onde o novo grupo ficaria com posição dominante.
O Brasil, apesar dos problemas regulatórios, não foi precisamente um tema para a fusão, afirmou Fontana. O negócio no mercado brasileiro representou apenas 80 milhões de francos suíços (US$ 86,3 milhões) nos 3,9 bilhões de francos suíços (US$ 4,2 bilhões) do Ebitda da empresa suíça em 2013. O Ebitda combinado de Holcim e Lafarge foi de 7,8 bilhões de francos (US$ 8,4 bilhões) no ano.
Lafont, atual CEO da Lafarge, reiterou que o Brasil "é importante para o novo grupo, porque é um grande país que tem enormes projetos de construção e precisa de muita infraestrutura".
Conforme destacou Soiron ao Valor, investimentos em andamento pela Holcim não vão ser suspensos por causa de acúmulo de capacidade num novo grupo. "De jeito nenhum, parar seria besteira", afirmou ele.
Para analistas, a fusão representa clara estratégia ofensiva para se contrapor aos gigantes de países emergentes, como o chinês Anhui Conch, primeiro produtor mundial de cimento, e o mexicano Cemex, sétimo.
O novo grupo - com receita anual de US$ 43 bilhões - terá presença em 90 países e repartição 'equilibrada' entre desenvolvidos e nações com forte crescimento (emergentes). A nova empresa se chamará LafargeHolcim.
Para Lafont, os sinais de recuperação economia mundial e os juros baixos podem ajudar a vender as fábricas, para atender as exigências das autoridades de regulação.
Por Assis Moreira

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